terça-feira, 3 de março de 2009

Prisões Especiais do Estado Novo

Prisão de Caxias

“Durante vários dias, no princípio do verão de 1974, tive acesso livre a uma estranha e terrível prisão próxima a Lisboa, então vazia devido ao golpe que no mês de Abril findou 48 anos de ditadura fascista em Portugal. O meu tempo na prisão de Caxias foi uma experiência jamais esquecida, mas eu não esperava que as memórias retornassem tão vivamente hoje…”
“…O meu guia em Caxias foi um psiquiatra português treinado em Edinburgh, o qual, felizmente por um período curto, fora ali prisioneiro. Ele contou-me que muitos prisioneiros libertados, especialmente os comunistas — considerados como os mais difíceis de quebrar — não voltavam para casa. Ao invés disso afastavam-se das suas famílias, conseguiam um emprego simples, ou caíam no alcoolismo, até mudavam de nomes; tais eram as suas novas vidas como zumbis mentais, criado pela coerção. (Isto foi confirmado por outro psiquiatra que entrevistei que tratou vítimas de Caxias)…”
Christopher Reed, correspondente do “London Guardian”, que visitou a prisão de Caxias, após o 25 de Abril de 1974.


A fuga da Prisão de Peniche

Esta famosa fuga de Peniche foi uma das mais espectaculares da história do fascismo português, por se tratar de uma fuga das prisões de mais alta segurança do Estado Novo.
No dia 3 de Janeiro de 1960 escapam do forte de Peniche: Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Carlos Costa, Jaime Serra, Francisco Miguel, José Carlos, Guilherme Carvalho, Pedro Soares, Rogério de Carvalho e Francisco Martins Rodrigues.
No fim da tarde pára na vila de Peniche, em frente ao forte, um carro com o porta-bagagem aberto. Era o sinal de que do exterior estava tudo a postos. Quem deu o sinal foi o actor, já falecido, Rogério Paulo.
Dado e recebido o sinal, no interior do forte dá-se início à acção planeada. O carcereiro foi neutralizado com uma anestesia e com a ajuda de uma sentinela - José Alves - integrado na organização da fuga, os fugitivos passaram, sem serem notados, a parte mais exposta do percurso. Estando no piso superior, descem para o piso de baixo por uma árvore. Daí correm para a muralha exterior para descerem, um a um, através de uma corda feita de lençóis para o fosso exterior do forte. Tiveram ainda que saltar um muro para chegar à vila, onde estavam à espera os automóveis que os haviam de transportar para as casas clandestinas onde deveriam passar a noite.
Álvaro Cunhal passou a noite na casa de Pires Jorge, em São João de Estoril, onde ficaria a viver durante algum tempo.
Esta fuga só foi possível graças a um planeamento muito rigoroso e uma grande coordenação entre o exterior e o interior da prisão.

João Chasqueira